segunda-feira, 9 de julho de 2012

DE ALMA LAVADA - UMA BOA SEMANA PARA TODOS OS BRASILEIROS

 Hoje não vou descrever a impressionante luta de Anderson Silva contra Chael Sonnen no UFC 148. Todos os detalhes do combate já foram narrados à exaustão nos sites especializados como o da GracieMag e até em veículos de grande mídia (jornal Estado de São Paulo, jornal Estado de Minas, Lance, Fantástico, Bom Dia Brasil, etc). Todos já viram e reviram a batalha (inclusive no "replay ao vivo" da Globo - que papelão). Mas, como aquela joelhada do Anderson e a subseqüente saraivada de socos fizeram muito bem para mim e para todos os fãs do esporte, não pude deixar de postar algo hoje. Por isso, vou deixar que esssa bela ilustração que recebi ontem pelo Twitter (via @igormelloto) "fale mais do que 1000 palavras", como reza o dito popular. Pode parecer ufanismo, mas eu não estou nem aí: uma boa semana para todos os brasileiros.


terça-feira, 3 de julho de 2012

AS DUAS MÃOS DE WANDERLEI SILVA NÃO FORAM FORAM SUFICIENTES PARA SUPORTAR O SENTIMENTO DA NAÇÃO


Acordei com uma grande tristeza no domingo. Aquele aperto no peito, aquele embrulho no estômago, aquele gosto amargo na garganta. Nada me animava. E pensar que eu tinha tanto a dizer sobre este UFC 147. Podia escrever sobre a presença maciça do público que lotou o ginásio, contrariando todas as expectativas negativas. Tendo ido ao UFC Rio e a este UFC em BH, podia escrever sobre as notáveis diferenças entre a torcida carioca e a torcida mineira (a primeira muito mais animada e calorosa, a segunda mais concentrada e respeitosa – especialmente em relação aos americanos). As reações de Thiago “Bodão” e Marcos “Vina” renderiam boas linhas para narrá-las. Só a incrível batalha entre Cezar “Mutante” e Serginho já valia uma crônica própria. Assim como a “mágoa” do público com Vitor Belfort. Mas nada disso me empolgava naquela manhã nublada de domingo. Eu estava inconsolável.

Desde que foi anunciado que o UFC 147 seria realizado em Belo Horizonte, fiquei ansioso para ver Wanderlei Silva, a lenda, lutar “no meu quintal”. Sou paulista, mas resido em Minas Gerais há 07 anos. Morei em diversas regiões deste Estado gigantesco e aprendi a amá-lo como minha casa. No início da semana de 23 de maio, eu mal podia conter a ansiedade para estar próximo ao octógono e ver o “Cachorro Louco” arrasar Rich Franklin com joelhadas potentes. Aqui! Em solo mineiro.


O frustrante resultado da luta principal, com a derrota de Wanderlei, tirou a graça do evento sobre o qual eu havia falado tanto. O imortal mineiro Carlos Drummond de Andrade, certa vez, disse: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. As duas mãos de Wanderlei não foram suficientes para suportar o peso do sentimento de uma nação. Ele lutou, se esforçou, bateu, apanhou, cansou. E não foi o suficiente para vencer. 

 Meus amigos me ligavam perguntando sobre a luta e eu discutia hipóteses irreais. “E se o segundo round tivesse mais trinta segundos?” “E se aquele contragolpe tivesse acertado o alvo no último round?” É. Eu estava sofrendo a “Síndrome do Torcedor de Time que Perdeu”.

Você que torce por algum esporte (seja MMA, futebol, vôlei, peteca...) sabe do que estou falando. Eu já passei por humores assim, por exemplo, quando o meu São Paulo Futebol Clube perdeu a final da Copa Libertadores em 1994. Sentimos a derrota do nosso objeto de torcida como se fosse uma derrota nossa. Vemos e revemos a reprise na nossa cabeça e nos perguntamos o que poderia ter ocorrido diferente.  Para o verdadeiro fã antigo de MMA, ver a derrota de Wanderlei Silva no Mineirinho é equiparável a quem viu a Seleção Brasileira perder no Maracanã em 1950.

 Mas o esporte e a vida são feitos disso. De vencer e de perder. De comemorar e de sofrer. E, principalmente, de continuar torcendo. Não parei de torcer pelo São Paulo, nem pela Seleção Brasileira e não o farei em relação a Wanderlei Silva. Ele sempre será um ídolo e uma referência do esporte porque sempre mostrou coragem inigualável. Por isso, deixo Guimarães Rosa, o maior escritor de Minas Gerais, concluir de uma maneira muito melhor do que eu jamais poderia fazer: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
 Rich Franklin vs Wanderlei Silva UFC 147 BH Inovafoto



Crônica de autoria de Mauro Ellovitch e publicada no site da Revista GracieMag (www.graciemag.com) em 25 de junho de 2012.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011

 Faltando pouco mais de 10 dias para acabar o ano, podemos afirmar com certeza: 2011 foi um marco para a história do Mixed Martial Arts. Jamais o esporte esteve tão em evidência quanto no ano que se encerra. Mais do que pela competência administrativa do Grupo Zuffa (donos do UFC), este boom do MMA foi potencializado por um ano cheio de combates, golpes e eventos que estão entre os melhores de todos os tempos. Vamos relembrar alguns destes grandes momentos:
 O ano realmente "começou" com o nocaute espetacular de Anderson Silva sobre Vitor Belfort na então promovida como "luta do século". Além de Belfort, Anderson derrubou a barreira que separava o grande público dos admiradores de artes marciais. O "Spider" tornou-se (merecidamente) uma celebridade no Brasil, participando de programas de TV, clipes, comerciais, documentários e sendo eleito o "homem do ano" no campo esportivo pelas revistas Alfa, GQ e Isto É.
 


 Anderson Silva protagonizou ainda a volta do UFC ao Brasil, no memorável UFC RIO. Contando com performances sensacionais do "Spider", de Maurício "Shogun" Rua, Rodrigo "Minotauro", Paulo Thiago, Rousimar Palhares, Thiago Tavares, Erick Silva e de outros guerreiros brasileiros, a edição nacional do UFC foi também um sucesso de organização, público e cobertura da mídia (com a maior audiência do horário em TV Aberta no país). Além disso, o mundo do MMA pôde testemunhar que não existe torcida como a brasileira: "Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amoooor!"



 Tivemos outro golpe cinematográfico no chute "karate kid" aplicado por Lyoto Machida para aposentar Randy Couture no UFC 129. Uma pena que o nocaute também tenha marcado a despedida do "Capitão América", que lutou até os 48 anos com disposição de garoto e com a humildade que só os verdadeiramente grandes têm. Randy "The Natural" Couture entra para o panteão de "imortais" do MMA e passará a somente assitir as lutas do restante dos mortais, com a satisfação do dever (mais do que) cumprido.


  Alguns ídolos se vão, outros surgem. O fenômeno Jon Jones foi eleito o lutador do ano pela imprensa especializada. O campeão mais jovem do atual formato do UFC mostrou jogo completo e plástico para arrasar Ryan Bader, Maurício Rua, Quinton Jackson e Lyoto Machida: socos rodados, chutes efetivos, cotoveladas devastadoras, boas quedas e finalizações afiadas. Surgirá alguém em 2012 capaz de parar Jones?


 Do céu ao inferno. Assim podemos definir os momentos distintos da lenda Rodrigo "Minotauro" Nogueira em 2011. Nogueira teve sua volta muito celebrada, após 18 meses de recuperação de contusões, com uma vitória estonteante no UFC Rio contra Brendan Schaub. Mas também experimentou uma terrível reviravolta sofrida com a primeira finalização de sua carreira, após quase nocautear seu desafeto Frank Mir.




 Já o outro ícone brasileiro dos tempos do Pride, Wanderlei Silva, teve trajetória oposta este ano. Sofreu uma rápida derrota para Cris Leben em julho, mas encerrou 2011 nocauteando o duro Cung Le e ressurgindo no UFC, para a alegria de seus inúmeros fãs. Citando a música "Broken, Beat and Scarred" do Metallica: "Você levanta; Você cai; Você está derrubado, então se ergue de novo; O que não te mata te torna mais forte".


 E o que falar da batalha dos indestrutíveis Maurício "Shogun" Rua e Dan Henderson? No melhor combate do ano, foram 25 minutos de emoção incessante. Ambos acertaram e receberam golpes duríssimos. Permaneceram em pé até o soar do gongo final por pura raça e força de vontade, em uma luta franca, agressiva e técnica. Este embate já é reconhecido como um dos mais incríveis da história do MMA.


 O UFC alcançou tamanho nível de popularidade no Brasil que a maior emissora de TV Aberta do país teve que se render. A Rede Globo adquiriu os direitos de imagem do UFC e transmitiu, ao vivo, a vitória de Júnior "Cigano" dos Santos sobre Cain Velasquez para tornar-se o novo campeão dos pesos pesados. Com direito a narração de Galvão Bueno (não sei se é para rir ou para chorar): "Haja coração amigo!"



 Por fim, vale o registro: 2011 foi o ano de criação deste blog. A crônica esportiva já gerou textos sublimes. O mundo deve ao futebol crônicas geniais de autores como Nelson Rodrigues, Ruy Castro, Armando Nogueira. O MMA apresenta momentos tão ou mais emocionantes do que o futebol, que também merecem ser narrados, exaltados e romanceados. Como o esporte ainda é novo e não teve a oportunidade de ser objeto de escritores consagrados, espero que se divirtam com as palavras deste jovem jurista, faixa marrom de jiujitsu e escritor de fim de semana. Que venha 2012!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Caminho do Guerreiro e o MMA


 Bushido significa "Caminho do Guerreiro" e era o código de conduta não escrito dos Samurais. Era a reunião de virtudes, parâmetros e condutas para a classe guerreira do Japão Feudal. Baseado em valores como honra, respeito, coragem, controle, superação, intransigência, lealdade e disposição para o combate, o Bushido determinava o ideal para um bom samurai.
 Sou um apaixonado pela cultura samurai e acredito que, guardadas as devidas proporções, o núcleo moral do Bushido pode ser seguido nos dias atuais. Busco pautar minha conduta profissional e pessoal pelos valores acima mencionados.



 E qual outro esporte, nos dias atuais, representa melhor o Bushido do que o Mixed Martial Arts (MMA)?

 Inicialmente conhecido como vale-tudo (ou no holds barred), a mistura de artes marciais idealizada por Rórion Gracie se popularizou, se profissionalizou e hoje é esporte de abrangência global. Esta arena de combate de gladiadores modernos apela aos instintos guerreiros adormecidos pela vida civilizada e pacata da maioria dos homens.
 Como não nos emocionarmos com a resistência e a superação de Minotauro Nogueira diante do gigante Bob Sapp? Que outro esportista demonstra a coragem e a intransigência de Wanderley Silva, em todas as suas lutas francas e incontidas? Qual atleta apresenta maior grau de controle e lealdade do que Lyoto Machida? Isso para citar apenas alguns exemplos.

 Minha inegável admiração pelo MMA e a vontade de analisar e trocar idéias sobre este esporte incrível me levaram a criar este Blog. Espero que vocês gostem, sigam e colaborem.


"Se alguém tentar superar grandes guerreiros no campo de batalha, e dia e noite esperar derrotar um poderoso inimigo, seu coração se fortalecerá e ele se tornará incansável e corajoso. Esse princípio também deve ser aplicado aos assuntos do cotidiano". (Yamamoto Tsunetomo em  Hagakure - O Livro do Samurai, página 55)